sábado, 4 de abril de 2009

ALFONSÍN

Milhares acompanham cortejo fúnebre de Alfonsín em Buenos Aires

da Folha Online

Milhares de pessoas participaram nesta quinta-feira, em Buenos Aires, do cortejo fúnebre que conduziu o corpo do ex-presidente Raúl Alfonsín, 82, do Congresso para o cemitério do bairro da Recoleta. Mesmo sob chuva, o grupo seguiu sob gritos de "chove e o povo não se move" e "Raúl, querido, o povo está contigo". Entre os participantes, muitos carregavam bandeiras da Argentina e do partido de Alfonsín, a UCR (União Cívica Radial).
Símbolo da democracia argentina, Alfonsín, que governou entre 1983 e 1989, foi o primeiro mandatário eleito depois da última ditadura militar argentina (1976-1983).
Multidão acompanha o cortejo do ex-presidente Raúl Alfonsín em Buenos Aires; enterro na Recoleta terá honras de chefe de Estado.
Esta quinta-feira é feriado na Argentina em comemoração ao aniversário da ocupação, por parte daquele país, das ilhas Malvinas, em 1982. Com isso, famílias inteiras foram às ruas, e o cortejo levou mais de uma hora para atravessar o trajeto de 2 km. O caixão de Alfonsín foi coberto por uma bandeira argentina, pela antiga faixa presidencial e por flores e transportado em um jipe militar. No cemitério, Alfonsín será enterrado com honras de chefe de Estado.
Os últimos atos de homenagem a Alfonsín antes do enterro começaram ainda pela manhã, com discursos de autoridades no Congresso. Entre elas estava o brasileiro José Sarney, que foi presidente da República (1985-1990) e, atualmente, é presidente do Senado. Sarney disse que Alfonsín foi "um dos homens públicos mais importantes das Américas". "Vim expressar o sentimento de grande admiração do povo brasileiro. Trago o reconhecimento e a amizade do Brasil", disse, de acordo com o jornal argentino "La Nación".
Sarney e Alfonsín governaram a maior parte de seus mandatos ao mesmo tempo, em um período de redemocratização para ambos os países, e deram os primeiros passos para a integração regional com a assinatura da Declaração do Iguaçu, em 1985, embrião do que viria a ser, nos anos 90, o Mercosul.
Outro ex-presidente brasileiro, Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), também viajou a Buenos Aires para homenagear o argentino.
Depois dos discursos, uma missa foi celebrada pelo arcebispo de Santa Fe e primo-irmão de Alfonsín, monsenhor José María Arancedo. "O testemunho de afeto que temos assistido nos últimos dias em todo o país nos demonstra um reconhecimento da sua [Alfonsín] altura moral, suas qualidades cívicas e sua hombridade", afirmou o arcebispo.
Buenos Aires não registrava mobilização similar à do velório de Alfonsín desde a morte do general Juan Domingo Perón, em 1974, quando o velório levou três dias, e as autoridades tiveram que determinar o fechamento das portas do Congresso para fazer o enterro. Entre quarta-feira (1º) e esta quinta, mais de 70 mil pessoas foram ao velório, no Congresso.
Embora seja lembrado por seu envolvimento com os direitos humanos, Alfonsín enfrentou, no fim de seu mandato, 13 greves gerais e três tentativas de golpe militar, além de uma inflação que chegou a 4.900%.
Nesta sexta-feira (3), a presidente argentina, Cristina Kirchner, irá se reunir com familiares de Alfonsín. Kirchner lamentou a morte do ex-presidente, porém não pôde prestar homenagem pessoalmente porque está em Londres, onde é realizada a cúpula do G20.

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